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Por que mudar é tão difícil? O que a TCC e a neurociência explicam sobre o medo de sair da zona de conforto

  • Foto do escritor: Sabrina Ramos Maurer
    Sabrina Ramos Maurer
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Você provavelmente já passou por isso: saber que precisa mudar, sentir que a vida não está do jeito que gostaria, mas continuar no mesmo lugar. Essa dificuldade não é preguiça ou falta de força de vontade — é o resultado de mecanismos psicológicos e neurológicos que influenciam nossas escolhas.

Segundo a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e estudos da neurociência, a mudança só acontece quando a dor de continuar como está se torna maior que a dor de mudar.

O cérebro e a aversão ao desconforto

Nosso cérebro foi moldado para evitar riscos e economizar energia. Isso significa que, mesmo diante de uma situação ruim, ele tende a preferir o que é previsível ao que é desconhecido. Essa tendência é explicada pelo fenômeno chamado aversão à perda (Kahneman & Tversky, 1979), que mostra como sentimos mais intensamente o impacto de perder algo do que o prazer de conquistar algo novo.

Na prática, significa que o desconforto da mudança costuma parecer mais ameaçador do que o sofrimento de continuar como estamos — até que a situação se torne insuportável.

A zona de conforto na visão da TCC

Na TCC, a “zona de conforto” não é sinônimo de bem-estar, e sim de padrões conhecidos — formas de pensar, sentir e agir que já aprendemos e repetimos. Mesmo que tragam sofrimento, esses padrões oferecem previsibilidade.

Sair dessa zona exige enfrentar pensamentos automáticos e distorções cognitivas, como:

  • “Vai ser muito difícil.”

  • “Eu não vou dar conta.”

  • “E se tudo der errado?”

Esses pensamentos aumentam o medo e alimentam comportamentos de evitação.

Por que muitas pessoas só mudam diante de crises

O Modelo Transteórico de Mudança (Prochaska & DiClemente, 1994) descreve que muitas pessoas permanecem em estágios iniciais de contemplação até que algo aumente o senso de urgência. Em outras palavras: a ação costuma surgir quando o sofrimento com o problema supera o medo da mudança.

O desafio neurológico da mudança de hábitos

A neurociência mostra que mudar exige neuroplasticidade — criar novas conexões neurais e enfraquecer as antigas. No início, isso demanda mais esforço mental, pois o cérebro prefere usar os caminhos já consolidados (Graybiel, 2008).Esse esforço gera desconforto, que pode ser temporário, mas é intenso no começo.

Como a TCC pode ajudar nesse processo

A Terapia Cognitivo-Comportamental oferece estratégias práticas para enfrentar o medo da mudança e criar novos hábitos de forma sustentável:

  1. Identificação de pensamentos automáticos – Reconhecer ideias que aumentam o medo e a evitação.

  2. Reestruturação cognitiva – Substituir interpretações distorcidas por percepções mais realistas e encorajadoras.

  3. Exposição gradual – Enfrentar aos poucos situações que provocam ansiedade, reduzindo seu impacto.

  4. Treino de habilidades – Desenvolver competências emocionais e comportamentais para lidar com desafios.

Conclusão

Mudar é um processo que envolve tanto fatores emocionais quanto neurológicos. O desconforto inicial é natural — é o cérebro se adaptando a novos caminhos. Quando entendemos que a dor da mudança é temporária, mas a dor de permanecer pode durar a vida inteira, damos espaço para transformar não só nossos hábitos, mas também nossa forma de viver.

Referências:

  • Beck, J. S. (2011). Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. Artmed.

  • Beck, A. T., Rush, A. J., Shaw, B. F., & Emery, G. (2017). Terapia Cognitiva da Depressão. Artmed.

  • Dobson, D., & Dobson, K. S. (2018). Evidence-Based Practice of Cognitive-Behavioral Therapy. Guilford Press.

  • Hofmann, S. G., Asnaani, A., Vonk, I. J., Sawyer, A. T., & Fang, A. (2012). The Efficacy of Cognitive Behavioral Therapy: A Review of Meta-analyses. Cognitive Therapy and Research, 36(5), 427–440.

  • Kahneman, D., & Tversky, A. (1979). Prospect Theory: An Analysis of Decision under Risk. Econometrica.

  • Prochaska, J. O., & DiClemente, C. C. (1994). The Transtheoretical Approach: Crossing Traditional Boundaries of Therapy. Krieger Publishing.

  • Graybiel, A. M. (2008). Habits, rituals, and the evaluative brain. Annual Review of Neuroscience.

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